Próximos livros

Tenho postado pouco aqui por conta da correria desse início de ano, muito trabalho e tal.

Mas o tempo não para e alguns livros novos estão em andamento:

1 – Dia 29 de abril vou lançar o livro infantil novo: Alho por alho, dente por dente (poesia, pela Memória Visual), que escrevi com o camarada André Moura e terá as belas ilustras da Júlia Lima. Vai ser no Salão FNLIJ.

2 – Melhor que eu falar do outro projeto é reproduzir o que saiu na coluna “Babel” d’O Estado de São Paulo:

BEATLEMANIA LITERÁRIA

Depois de organizar o livro Como Se Não Houvesse Amanhã (Record), com contos de autores brasileiros inspirados em músicas da Legião Urbana, Henrique Rodrigues corre para aprontar outra coletânea. Convidou Adriana Lisboa, Ana Paula Maia, Carola Saavedra, André de Leones, Marcelino Freire, Marcelo Moutinho, Felipe Pena e Zeca Camargo, entre outros, para escreverem textos a partir de canções dos Beatles. O Livro Branco será lançado pela Record em junho para a festa de 70 anos de Paul McCartney.

E vamo que vamo.

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sobre Eloá, Nayara e Lindemberg

Assim como ocorreu com muitas pessoas, em 2008 fiquei bastante arrasado com esse caso. Na época, fiz essa crônica para tentar suportar o sentimento.

ELEGIA DA PAIXÃO DESMEDIDA

“O amor não deixa sobreviventes.” Nelson Rodrigues

Semana passada um jovem sequestrou a ex-namorada, que acabou morrendo. Não foi a primeira vez que a população pôde acompanhar ao vivo um crime no caldeirão da fervura urbana. Tampouco é inédito que todos os meios de comunicação ponham foco num único fato devido à audiência certa. No mesmo conjunto, seqüestro com morte por ação questionável da polícia também não é novidade. Não me interessa a (falta de) ação das autoridades etc. No mesmo dia em que acabou o incidente, vi que os civis e militares estavam se batendo em São Paulo, então é melhor deixá-los assim e assumirmos que não dão conta de pôr ordem na realidade. Se a polícia não se entende, não sou eu quem vai entendê-los.

No entanto, algo nesse episódio me comoveu de forma inesperada, como se ali estivessem contidas algumas senhas e chaves para o entendimento desse mundo caduco. Alguns aspectos são bem simbólicos em tudo o que ocorreu, que para mim caracterizam o caso como uma tragédia das mais clássicas.

Essa rede simbólica já começa com os nomes dos envolvidos, cuja etimologia aponta para alguma possibilidade de atribuir sentido ao fato. Eloá, nome de origem hebraica, é uma das formas de se pronunciar o nome de Deus; Lindemberg era um nome comum entre nazistas; a amiga Nayara, em grego, significa “aquela que comanda”.

As tragédias gregas se baseavam na idéia de que o herói ultrapassou o seu métron, que seria o limite de cada um, e cometia a hybris, um tipo de orgulho desmedido. Por isso, deveria sofrer a hamartía, a punição divina, que no caso do teatro clássico possuía um fim didático, servindo para mostrar ao povo que certos espaços não podiam ser ultrapassados.

Terminado o namoro, Lindemberg não teve a experiência necessária para entender que o amor acaba. Embora sete anos mais velho, amou Eloá de forma imatura. Vítima da perspectiva adolescente, via o mundo como possibilidade ilimitada, o tempo como distância de eternidade e a paixão como mergulho infinito. O amor sempre exige a transcendência, quer expansão. Uma vez que não seja possível expandi-lo via conquista, lança-se mão dos artifícios de domínio.

Essa hybris de Lindemberg o fez tomar por força o seu objeto de devoção e culto, sua manifestação divina encarnada numa jovem.  Mesmo sem antecedentes criminais, foi necessário entrar no território do comportamento criminoso pelo descontentamento com a rejeição. Lindemberg invadiu o espaço da liberdade alheia para impor os seus desejos. O amor se converteu na sua face mais doentia, a da falsa sensação de posse – porque ainda hoje há quem creia na idéia de se ter algo ou alguém como um objeto -, em detrimento da cessão e da troca.

Ao matar Eloá, Lindemberg assassinou o que o aproximava de Deus. Quis dominar o que não se presta a ter dono: Deus e a mulher. À amiga Nayara, aquela que comanda, restou a tentativa de mediar o conflito, tendo exercido de fato a indevida função de negociadora, porém foi silenciada com um tiro na boca. Impotente, a polícia silenciou o seqüestrador com balas falsas.

Apontar culpados é antes procedimento jurídico ou necessidade de justiça do que se assumir que nesse tipo de caso todos acabam sendo vítimas. Parece que Lindemberg não sabe ainda que sua ex-namorada morreu. Quando souber, vai sentir a sua hamartía, e provavelmente terá a dura ciência de que nunca mais poderá amar e ser amado de forma minimamente sadia.

É preciso lucidez e maturidade para se despedir, inclusive do amor. Lindemberg, Eloá e Nayara nos fazem lembrar que o aspecto trágico da condição humana nos situa na dimensão da finitude, e que esse é o intervalo que foi reservado para a manifestação da nossa intensidade.

E por não compreender o tempo da ausência, esse rapaz nem pôde aprender que o amor também é abnegação – e às vezes requer apenas tocar a vida e deixar a moça ir embora para sempre.

Rio, 21/10/2008.

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Em 2011 publiquei livro novo, visitei muitas escolas (inclusive aquelas onde estudei), ministrei palestras e oficinas, papeei com uma penca de leitores maravilhosos. Se 2012 for tão bom quanto, já será ótimo. Feliz Ano Novo, pessoal.

Vai aí um poema que fiz há uns anos sobre o assunto.

O GRÃO DA AMPULHETA

O que se foi já foi, embora esteja
Tão perto, aqui do lado, cutucando
A beira da memória, justo quando
Pensamos ter vencido essa peleja.

O que passou passou, mas ainda passa.
E por passar ainda, permanece
Um fardo, um cheiro, um grão que amadurece
À medida que o tempo se esfumaça.

É um ano novo, um novo calendário,
Novo verão – porém a mesma aurora
De um futuro que sempre se inicia.

E é assim que o tempo passa: imaginário.
Como quem morre e nasce a cada dia,
Como quem chega enquanto vai-se embora.

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Assunto poesia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No próximo sábado vou fazer leitura e lançamento do Sofia e o dente de leite em Curitiba, na Bisbilhoteca. Todos dizem que é um espaço bem legal.

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Assunto poesia

Papo sobre humor

Hoje vou mediar o papo sobre crônicas de humor – assunto que muito me interessa – com os grandes Tutty Vasquez e Marcelo Madureira. Aparece lá.

 

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De volta à escola

Se visitar escolas como autor já é legal, imagina ir naquela onde estudamos há mais de 20 anos? Nesta semana, estive no Ciep Adão Pereira Nunes, em Irajá. Meu irmão e eu estudamos lá entre 1986 e 88 (uma eternidade!), e foi a melhor escola onde estudei. Não sei se porque éramos muito novos ou se o projeto do Ciep estava no auge – a escola tinha todos os recursos materiais e humanos, e tudo funcionava -, mas o que ficou para mim foi a educação em nível de excelência.

Assim como eu, a escola está mais velha, mas mantém o mesmo espírito. Se cresci, ela diminuiu um pouco, mas estávamos lá. Fui muito bem recebido pela coordenadora Gisele e a diretora Ademilda. Almocei/merendei (o mesmo gosto bom!) e depois fiz umas três sessões de leitura para a garotada. A escola hoje só funciona como Ensino Fundamental, então li os meus livros infantis e papeei com aqueles meninos tão parecidos comigo. E foi realmente uma identificação. O menino Henrique estava ali com eles. Quando me perguntaram qual era o meu sonho, respondi que era ser escritor, fazer o que estava fazendo ali.

Sou muito grato ao Ciep Adão Pereira Nunes, com seus alunos e professores maravilhosos, por serem parte da minha história.

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Assunto Gerais

AI DE TI, BARRA DA TIJUCA!

No final da década de 50 fez muito sucesso uma crônica do mestre Rubem Braga, intitulada “Ai de ti, Copacabana!”, na qual o bairro teria um fim apocalíptico. A Princesinha do Mar não foi destruída, mas sua decadência hoje evidente confere ao texto um tom semiprofético. Como dizem que a Barra da Tijuca equivale à Copacabana dos anos dourados — na verdade, nem de longe — fica aqui registrada também uma crônica equivalente, guardadas as devidas proporções (tanto dos bairros quanto dos cronistas).

1. Ai de ti, Barra da Tijuca, pois tua orla em forma de sorriso parece uma boca chorosa quando vista do oceano.

2. Ai de ti, Barra da Tijuca, porque não tens o glamour daquela que queres imitar, nem a grandiosidade original dos seus habitantes.

3. Ai de ti, Barra da Tijuca, porque tua praia revoltosa irá consumir as ruas, e as ondas que tanto divertem os surfistas serão como dentes impetuosos.

4. E tudo quanto foi aterrado tornará a ser domínio de Iemanjá, pois o mar vai ceder seu corpo à lagoa de Marapendi, e ambos se abraçarão para reconquistar o espaço que lhes pertence.

5. E os teus emergentes virão à tona, estáticos, tal como as dejeções dos teus canais de esgotos irregulares.

6. Grandes são teus shoppings, mas cartão de crédito algum pagará a isenção das águas, que os tomarão totalmente despreocupadas com as aparências.

7. Ai daqueles que, bêbados, cruzam as Américas e a Sernambetiba nos seus carros importados, porque pensarão ser delírio quando virem as pistas alagarem-se, e nesse momento de nada valerão os motores possantes.

8. E os pampos nadarão nas casas dos condomínios, sem terem de se identificar na portaria sob os holofotes dos porteiros engravatados.

9. E serão em vão os esforços dos empreendedores em transformar, às pressas, a Terra Encantada num parque de águas, pois essas mesmas pessoas serão levadas junto com as instalações.

10. Ai de ti, Barra da Tijuca, porque os teus altos prédios com nomes em inglês se esfacelarão; já recebeste o aviso, mas ignoraste, e por isso tais estruturas retornarão do pó ao pó, da areia à areia.

11. E após a reconquista das águas nenhum idioma se imporá ante olhos e ouvidos impressionáveis, pois na calmaria submersa reinará o silêncio, a mais universal das línguas.

12. E tua Estátua da Liberdade revelar-se-á também um monumento descartável, tendo o corpo dissolvido ao breve toque da comoção fluida.

13. Pois grande tem sido a tua vaidade, Barra da Tijuca; por isso teus poucos refugiados procurarão com humildade abrigo na Cidade de Deus e no Rio das Pedras, e estes os acolherão.

14. Malha artificialmente em academias, ri com luxúria pela noite enquanto tens tempo, bronzeia-te do Quebra-Mar à Pedra da Macumba, porque em breve conhecerás a devastação e a fúria. Curte o teu último point, Barra da Tijuca!

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Assunto crônica

Roteiro Literário – Páginas de Copacabana

Amanhã sairemos de Copacabana para uma caminhada literária. Sou um dos curadores do projeto.

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Assunto Gerais

Como se faz um livro?

A Ciência Hoje das Crianças entrevistou algumas pessoas sobre todas as etapas de criação de um livro. Dei um pequeno depoimento.

E reitero: as crianças são os melhores leitores de poesia que temos.

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Assunto Gerais

Cosme e Damião

 

 

 

 

 

 

É dia de pegar doce!
Então chama o Seu Glicério,
Convoca a Dona Dulcina,
Acorda também a Mel!
(Nenhum deles tem diabetes.)
Se eu fosse um livre-docente
Ou se mais moleque fosse,
Largava este poema diet
E ia correr atrás de doce…

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Assunto poesia