Ai de ti, Barra da Tijuca

A propósito do centenário do Rubem Braga, desengavetei (em tempos de cliques, esse verbo agora é só um modo de dizer) essa crônica que fiz lá por 1998, quando escrevia num jornal de Jacarepaguá. Nessa época de aprendizado (meio da graduação em Letras), fazia paródias ou pastiches das leituras de que mais gostava.

“No final da década de 50 fez muito sucesso uma crônica do mestre Rubem Braga, intitulada ‘Ai de ti, Copacabana!’, na qual o bairro teria um fim apocalíptico. A Princesinha do Mar não foi destruída, mas sua decadência hoje evidente confere ao texto um tom semiprofético. Como dizem que a Barra da Tijuca equivale à Copacabana dos anos dourados — na verdade, nem de longe — fica aqui registrada também uma crônica equivalente, guardadas as devidas proporções (tanto dos bairros quanto dos cronistas).

1. Ai de ti, Barra da Tijuca, pois tua orla em forma de sorriso parece uma boca chorosa quando vista do oceano.

2. Ai de ti, Barra da Tijuca, porque não tens o glamour daquela que queres imitar, nem a grandiosidade original dos seus habitantes.

3. Ai de ti, Barra da Tijuca, porque tua praia revoltosa irá consumir as ruas, e as ondas que tanto divertem os surfistas serão como dentes impetuosos.

4. E tudo quanto foi aterrado tornará a ser domínio de Iemanjá, pois o mar vai ceder seu corpo à lagoa de Marapendi, e ambos se abraçarão para reconquistar o espaço que lhes pertence.

5. E os teus emergentes virão à tona, estáticos, tal como as dejeções dos teus canais de esgotos irregulares.

6. Grandes são teus shoppings, mas cartão de crédito algum pagará a isenção das águas, que os tomarão totalmente despreocupadas com as aparências.

7. Ai daqueles que, bêbados, cruzam as Américas e a Sernambetiba nos seus carros importados, porque pensarão ser delírio quando virem as pistas alagarem-se, e nesse momento de nada valerão os motores possantes.

8. E os pampos nadarão nas casas dos condomínios, sem terem de se identificar na portaria sob os holofotes dos porteiros engravatados.

9. E serão em vão os esforços dos empreendedores em transformar, às pressas, a Terra Encantada num parque de águas, pois essas mesmas pessoas serão levadas junto com as instalações.

10. Ai de ti, Barra da Tijuca, porque os teus altos prédios com nomes em inglês se esfacelarão; já recebeste o aviso, mas ignoraste, e por isso tais estruturas retornarão do pó ao pó, da areia à areia.

11. E após a reconquista das águas nenhum idioma se imporá ante olhos e ouvidos impressionáveis, pois na calmaria submersa reinará o silêncio, a mais universal das línguas.

12. E tua Estátua da Liberdade revelar-se-á também um monumento descartável, tendo o corpo dissolvido ao breve toque da comoção fluida.

13. Pois grande tem sido a tua vaidade, Barra da Tijuca; por isso teus poucos refugiados procurarão com humildade abrigo na Cidade de Deus e no Rio das Pedras, e estes os acolherão.

14. Malha artificialmente em academias, ri com luxúria pela noite enquanto tens tempo, bronzeia-te do Quebra-Mar à Pedra da Macumba, porque em breve conhecerás a devastação e a fúria. Curte o teu último point, Barra da Tijuca!

 

Aliás: TUDO BEM, O HOMEM É UM SER POLÍTICO. MAS E O POLÍTICO, É UM SER HUMANO?”

 

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Neste ano visitei muitas e escolas e participei de eventos bem legais. Um dos mais legais foi a leitura que fizeram do “Como se não houvesse amanhã” na FLUPP, lá no Morro dos Prazeres. Convidaram o ator Daniel Rocha para uma leitura dramatizada e depois tive um longo e divertido papo com a garotada. Como havia muitas crianças, levei uns livros infantis. Gratificante pacas.

Saiu matéria no RJ-TV. Dá para ver aqui. Atentem para o preciso depoimento da jovem Bárbara no final:

http://globotv.globo.com/rede-globo/rjtv-2a-edicao/v/moradores-do-morro-dos-prazeres-convivem-com-a-literatura-na-primeira-flupp/2236186/

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Nissim Ourfali e a teoria da incongruência

http://www.youtube.com/watch?v=h3bywyknDT0

A investigação do fenômeno humorístico em épocas digitais exige uma abordagem que deve considerar uma série de diferenciais característicos dos nossos dias. Se pensarmos que a revolução digital vem provocando contínuas alterações na sociedade e na forma de se observá-la, e que o humor é uma necessidade humana e, portanto, faz parte desse caldo cultural, teremos um novo e amplo campo de análise.

Em todos os períodos da nossa história cultural, o humor lançou mão de todas as tecnologias disponíveis. O acesso a um grande número de pessoas e a velocidade com que a informação se propaga, somado os inúmeros recursos das novas mídias, fizeram com que um verdadeiro banquete do riso esteja servido para as massas. Dentre as muitas formas de manifestação humorísticas recentes, os chamados virais têm sido uma grande forma de riso instantâneo e amplamente difundido. O conceito do humor viral é derivado do campo publicitário, cujo objetivo é disparar peças com grande capacidade de replicação entre os consumidores, não muito diferente do tradicional boca a boca. No entanto, um diferencial de uma ação de marketing para um vídeo de humor viral é que, neste caso, não se busca vender um produto ou marca, e sim compartilhar aquilo que se ache engraçado. É o caso do “Nissim Ourfali Bar Mitzvá”, vídeo que entre agosto e setembro de 2012 vem sendo replicado ad nauseam, tendo sido assistido mais de dois milhões de vezes.

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convites

Seguem três convites de uma vez, aos amigos do Rio, Curitiba e Brasília:





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Book trailer “O livro branco”

 

 

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Convite lçtos Rio e Sampa

Clique no convite para visualizar melhor.

 

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O livro branco

E saiu do forno O livro branco, antologia de contos inspirados em músicas dos Beatles. A ideia foi basicamente a mesma doComo se não houvesse amanhã (que teve a Legião Urbana como inspiração): pegar a canção preferida dos Fab Four e criar uma história.

Chamei autores com diferentes vozes narrativas e todos se empolgaram com o desafio. No final, o livro ficou com essa diversidade boa – tal como o próprio Álbum branco – e costurado com o fio dos Beatles. Espero que os leitores curtam.

Eis os participantes: Ana Paula Maia, André de Leones, André Moura, André Sant’Anna, Carola Saavedra, Fernando Molica, Felipe Pena, Godofredo de Oliveira Neto, Henrique Rodrigues (sim, fiz um a partir de “Hey Jude”), Lúcia Bettencourt, Marcelino Freire, Marcelo Moutinho, Marcia Tiburi, Marcio Renato dos Santos, Maurício de Almeida, Nelson Motta, Rafael Rodrigues, Simone Campos, Stella Florence e Zeca Camargo.

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Amar, verbo atemporal

Participo da antologia poética Amar, verbo atemporal (Rocco), organizada pela poeta e tradutora Celina Portocarrero.  O livro reúne 50 poemas de autores clássicos, nascidos entre os anos de 1623 e 1897, e mais outros 50 inéditos, de autores nascidos entre 1936 e 1989.

Eu, seminovo que sou, participo com um soneto. Daquele classicão mesmo.

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Em O Globo

Outro dia saiu essa matéria bem legal no Globo Barra.
Clicando na imagem dá para ler melhor. Tem também a versão online aqui.

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Alho por alho, dente por dente

Esse livro surgiu a partir de uma troca de emails com o camarada André Moura, em que a gente brincava com provérbios sob a forma de poemas. O livro tem design e ilustrações da talentosa Júlia Lima, que já trabalhou nos meus O segredo da gravata mágica e O segredo da bolsa mágica.

O lançamento vai ser dia 29/04, domingo, no Salão do Livro para Crianças e Jovens. Pinta lá.

 

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