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Na Bienal do Livro

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Minhas participações na Bienal do Livro:

O país das maravilhas no reino do reverso, com Inés Garland, Silvia Schujer, Luciano Saracino e Henrique Rodrigues. Mediação de Renata Nakano.

Dia 10/09, quinta-feira, no estande da Argentina às 15h.

 

O próximo da fila: Desejo, projeto e o mundo do trabalho. Transformando o mundo pelo fazer, com Luana Cavalcanti e Henrique Rodrigues. Mediação de Simone Magno.

Dia 11/09, sexta-feira, às 15h, no Cubovoxes (Pavilhão Verde – O11/N12)

 

Às 16h nesse mesmo dia vou autografar “O próximo da fila” no estande da Record (Pavilhão Azul – E04/F03)

Até lá!

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Storytellying é o cacete!

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(crônica publicada no site Vida Breve)

Por esses dias foi comemorado o dia do contador de histórias. (Como as crônicas anteriores se basearam no dia da mulher, dia da poesia e aniversário do Rio de Janeiro, prometo à leitora dar um tempo dessa técnica mui manjada de pescar esta página das terças na efeméride da semana, e assim irei me basear em assuntos mais desimportantes – o que, via de regra, rende melhores textos.)

Mas, como dizia, comemorou-se o dia do contador de histórias. A celebração teve início na Suécia em 1991, primeiro dia da primavera no hemisfério norte, quando se buscou homenagear essa figura importante que existe em todas as culturas. Ignorante, há um tempo pensava que toda efeméride se originava no dia de nascimento ou morte de alguém. Mas uma pesquisa rápida nos informa que nesse dia nasceram o poeta romano Ovídio – tive um professor de latim que vivia repetindo “Ovídio sabia tudo!”, o dramaturgo norueguês, meu semixará, Henrik Ibsen e o poeta paulista Menotti Del Picchia, aquele para quem o crítico Agripino Grieco fez um dos trocadilhos mais redondinhos de que se tem notícia: “Menotti del Picchia, fecha a braguilha do teu nome!”

Aliás, que palavra feia essa tal “efeméride”! Perde apenas para “cônjuge”.

Faço um balão na avenida das digressões e retorno ao assunto: os contadores de histórias. Essa forma de arte é uma das mais relevantes que existem. Ainda que muitos associem a narração oral de histórias a uma prática exclusivamente voltada para o universo infantil, trata-se de uma ação acessível a todas as faixas etárias. Lida com imaginação e memória, dois campos importantes dos nossos processos cognitivos, e uma necessidade que todos temos, talvez inata, de absorver narrativas. Dos mitos contatos em torno de fogueiras crepitantes, passando pelos romances, o cinema e os videogames, parece que precisamos encontrar sempre novas formas de transmitir histórias.

A trabalho, circulei por diversas cidades acompanhando alguns contadores, e as experiências são sempre muito gratificantes. Diferente de uma apresentação teatral, em que a representação é o foco do espetáculo, numa “contação” (parece que o termo não está mais em uso) importante é justamente o texto, a narratividade sugerida pelo contador, cuja performance não pode ser superior ao que é contado. Existem variadas técnicas, com malas, pequenos objetos, tapetes e mesmo livros, mas o principal é a voz narrativa do contador. Por isso muitos têm certo preconceito com essa arte, que é logo quebrado após ouvir uma boa história bem contada.

Em países como a Espanha, o contador de histórias é uma profissão reconhecida. Não por acaso, é a terra de Cervantes, cujos restos mortais foram descobertos há poucos dias. O autor de “D. Quixote” contou a primeira grande história moderna do Ocidente. Naquelas terras, há indivíduos que vivem em itinerâncias apresentando seus cuentos. Nas últimas décadas, essa atividade vem se firmando por aqui também como uma forma de arte autônoma.

E mesmo a publicidade pega carona nessa onda. O termo storytelling é usado quando os caras querem criar uma historinha em torno de determinada marca para que ela pareça mais apetecível ao público consumidor. Há casos, revelados recentemente, em que abusaram desse recurso, inventando histórias mentirosas sobre os seus produtos, como a marca Do bem, cujos sucos viriam de frutas fresquinhas oriundas de uma fazenda de um senhorzinho chamado Francesco. Tudo balela.

O tal storytelling nada tem a ver com a arte de contar histórias. É o extremo oposto. Ninguém sai de uma sessão de narração de histórias querendo comprar coisa alguma – a não ser, quando muito, livros que contem histórias. O que se pretende não é consumir, e sim imaginar, sentir, e experimentar o sabor de uma narrativa. Tudo grátis. Uma propaganda que utiliza esses recursos de forma pouco ética parece, no fundo, distrair a mente do público enquanto mete a mão no bolso dele.

Não estamos na primavera, e sim no outono, a estação em que o Rio de Janeiro fica mais bonito. Boa época para se contar uma história, assim mesmo, em bom português. Como diz o Alcelmo Gois, storytelling é o cacete!

 

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Rio de nós mesmos

Tiago_Silva_VB_03_março_15

(crônica publicada no site Vida Breve)

Há uns anos – e a leitora agora já fica na dúvida se estou pescando algo da memória mesmo ou se é coisa inventada, uma vez que não faz muita diferença, pois raramente alguém sai a campo para averiguar a veracidade de fatos descritos numa crônica –, um texto do Millôr Fernandes abria o salão de humor na Casa de Cultura Laura Alvim, dizendo “o Rio de Janeiro continua rindo”.

Nesses 450 anos da cidade, vale lembrar de um aspecto importante, ora positivo ora negativo, que marca a chamada carioquice: o humor. Aquoso por ser litorâneo, sardônico porque é – embora já tenha sido mais – contra o poder, flexível porque precisou se adaptar a uma geografia de sobe-e-desce, o riso no Rio de Janeiro é marca tão inconfundível que alguns chegam a definir a crônica como uma categoria encontrou na cidade o solo mais fértil desde que começou a ser escrita no país. Desconte-se o fato de que, por ter sido capital, onde a imprensa nacional se centralizava, escritores em geral migraram para cá, entre eles os de humor, como o Barão de Itararé (Apparício Torelly). Eles se somaram aos nativos, como Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sério Porto que, assim como o Barão, de tão relevante, fez a criatura se tornar mais conhecida que o criador.

O chamado jeitinho brasileiro continua impregnado no comportamento carioca, atualizando-se a cada modismo e tecnologia, mantendo ainda a ideia de que, por aqui, a transgressão é a norma e vice-versa. E vice-verso, pois as inversões de papéis e sentidos são a argamassa da construção literária do humor. A maneira escorregadia de pensar, a sociabilização pela via anedótica, a adoção quase automática de uma postura irreverente criaram um ambiente propício para se olhar a vida com esse olhar irônico e contestador, mesmo quando a importância da capital foi levada para longe e se instaurou o regime ditatorial. Tá lá o Pasquim, que burlou isso tudo e mudou a imprensa.

Mas não sei, do outro lado ficou um estereótipo. Uma coisa é ser um malandro carioca à la Chico Buarque, erudito, zona-sulesco sem a prepotência elitista, uma unanimidade não burra. De outro, o contraponto que se fez com os paulistas, mais sérios e profissionais, cuja pressa é tão grande que muitas vezes não sobra tempo para o segundo beijo ou o S dos plurais. Recorro às aspas de Lívia Barbosa, no seu livro O jeitinho brasileiro, no qual ela retrata a contraface das cidades irmãs:

“Enquanto o primeiro ou é bem-humorado, simpático, boa vida, piadista, preguiçoso, gosta de samba, chopp, praia, mulher e carnaval, desenvolveu uma particular ojeriza pelo trabalho e não é uma potência econômica, o segundo representa os valores opostos. Em primeiro lugar, é trabalhador, bem-sucedido economicamente, seguidor das leis e das normas, mora numa cidade sem sol e sem mar, fria e cinza, onde tudo funciona eficientemente e ainda por cima carrega o Brasil nas costas.”

Por falar em livro, me lembro do ótimo romance Barba ensopada de sangue, do gaúcho (mas que passou boa parte da vida em São Paulo) Daniel Galera. O livro é recente, de 2012, e a história se passa em Garopaba, litoral catarinense, alguns anos antes. Em certo momento, aparece um personagem que nem chega a ser secundário, quando há um passeio de bote para turistas, e o guia explica que há alguns anos as baleias eram caçadas ali com arpões contendo dinamites, chamados de bombilanças. Os passageiros admiram a beleza e a graça de uma que passa sob eles, e um típico carioca faz a gracinha típica: “Ih rapaz, esqueci a bombilança em casa”. Não se trata de um estereótipo, pois a situação seria bem plausível e não duvido que Galera tenha ouvido coisa parecida quando viveu em Garopaba alguns anos antes de escrever o livro.

Volto aos 450 anos da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e avanço mais cinquenta, imaginando se, ao completar meio século de existência, teremos encontrado algum equilíbrio. Seria muito ruim encontrar uma cidade na qual o jeitinho se retroalimenta exagerada e incessantemente, transformada numa distopia cyberpunk esculhambada. Mas também não posso imaginar a extinção do humor carioca, resistente no politicamente incorreto de cada dia, avesso à rigidez de pensamento cada vez mais preocupante, como se vê, por exemplo, nas frequentes manifestações de saudades de ditaduras e mesmo nas dificuldades de se entenderem ironias nas redes sociais. Espero que encontremos um meio termo nisso tudo.

Parabéns ao Rio de Janeiro, cidade onde nasceu o homo ludens.

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A musa diluída, meu livro de poesia publicado em 2006, fez uma ponta nesse vídeo do canal nomegusta, voltado para adolescentes. Legal.

Aparece em 4’40.

[youtube]http://youtu.be/_uxTlhCtMr8#t=4m36s[/youtube]

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Convite Tom Jobim

Vou te contar – 20 histórias ao som de Tom Jobim (Rocco)

Participo dessa antologia, organizada pela Celina Portocarrero, com uma história inspirada na canção Tema de amor para Gabriela.
tom

Aliás, uma boa ouvir a canção, aqui cantada pela Gal Costa:

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=LyrE3yCjmCA[/youtube]

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Paixão de Ler

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Na Flip

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Doutorado defendido, é hora de voltar para a vida literária. Vou para a Flip nos próximos dias e irei participar das seguintes programações:

Sexta, 01/08 

Meio de campo: o papel do agente literário

Bate-papo com Lucia Riff, Mariana Teixeira Soares  e Nicole Witt. Mediação de Henrique Rodrigues 

16h, FlipMais, na Casa da Cultura

 

Sábado, 02/08 

Atividade infantil: trocando alhos por bugalhos misturando os ditados – com Henrique Rodrigues e André Moura

11h, Off Flip das Letras, na Casa Libre/Nuvem de Livros

 

Sábado, 02/08 

Crimes e Castigos

Café Literário com Luisa Geisler, Mauricio de Almeida e Raphael Montes. Mediação de Henrique Rodrigues.

12h, Centro Cultural Sesc Paraty

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Updates

Estou sem postar nada há uns tempos por correria – especialmente a reta final de redação da tese de doutorado.

Mas temos algumas novidades: contrato fechado com a Record para o meu primeiro romance, além de um infantil que está no prelo e deve sair pelo meio do ano por uma editora bacana.

Sim, antecipo o convite: dia 11/04 vai rolar aqui no Rio um evento envolvendo O livro branco e a melhor banda cover deles no Brasil. Detalhes em breve.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=VYyyQC9E8sU[/youtube]

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by | 29/03/2014 · 13:17

E-mail resposta a um escritor seminovo

 

(Crônica publicada no site Vida Breve)

Ilustração: Rafa Camargo

Caro Henrique Rodrigues,

Fico agradecido bagarai pela sua resposta às minhas mensagens na semana passada, ainda mais por tornar público o meu livro de Poesia Pepitas frugais. Bastava me mandar um e-mail mesmo, o que indica que você também devia estar sem assunto para a crônica semanal e optou por resolver duas coisas de uma vez só. Tá beleza, é um direito seu. But… apesar da sua generosa resposta e tempo dedicados, gostaria de esclarecer algumas coisas e peço um direito de resposta no mesmo site, e acredito que esse grupo seleto e sério do Vida Breve vai me dar o espaço para isso. Vou enumerar meus pontos que nem você fez, para ser bem didático.

1) Pepitas frugais não é só um livro de Poesia de um carinha iniciante. Trata-se de uma Obra escrita ao longo da minha vida inteira, e até de algumas anteriores. Mas para deixar essa grandeza ao alcance dos leitores, foi preciso escrever umas notas introdutórias e assim tornar inteligível toda a complexidade dos meus escritos. É preciso mediação para a genialidade.

2) Você insinuou que meu livro flerta com autoajuda e onanismo (ficou com vergonha de falar punheta, bronha etc.?), e que eu preciso de diagnóstico. Saiba que meu analista me orientou a escrever mesmo, quando meus remédios não forem suficientes. Hoje é normal todo mundo ser tarja preta. E pelo menos eu estou convertendo minhas angústias em força produtiva, em vez de sair por aí destruindo os outros.

3) É verdade que não preciso ler Poesia, porque ela é essência e já trago comigo uma carga adormecida de fazer poético. Ela brota de minh’alma que a cultiva há séculos, de vidas passadas e futuras. Eu escrevo além do tempo, e o que não tenho portanto é tempo de ficar lendo coisas dos outros. Não me interessa.

4) E sim, para transubstanciar a Poesia meu analista sugeriu que bebesse no motivo que me atormentava que era a minha ex-namorada. Nossas trocas de mensagens eram densas, Poesia pura. Mas sei lá o que são esses tais de decassílabos, sonetos etc. É coisa de gente velha e não me interessa.

5) Você definitivamente não entendeu a mensagem liricoescatológica dos meus Poemas escritos com urina e fezes. Eles ocupam o lugar das palavras porque são isso, a água e o barro, início e fim da nossa humanidade. Seu intelecto é um pouco limitado quanto às simbologias, visto que esses dois Poemas vão participar de uma exposição de Arte num espaço alternativo da Lapa, em formato de painéis que vou escrever e retocar de acordo com a minha Vontade. Se você não entendeu, meu livro não é só um livro de Poesia, é algo maior, uma experiência de linguagem. Você já leu Rimbaud, Mallarmé, Tzara, ou mesmo os OuLiPos? Minha escrita também é de vanguarda e por isso eu estou reinventando a Poesia Universal. Por isso a Poesia não precisa se restringir mais a essa coisa mofada chamada palavra. Pfff, esses velhos que têm nojinho de mijo e merda… Poesia é o visual, o corpo, o movimento, os excrementos, o vômito pro mundo, saca? Não sei se você leu minha biografia no final, mas além de poeta, sou músico e DJ, um Artista Múltiplo mais completo.

6) Aliás, você citou Sabino, sobre a minha intervenção e performance do vômito, então eu vou citar Rubem Braga, para falar na sua língua com um desses autores velhos: “E, como todo mundo tem mais o que fazer, os poetas se tornam incômodos. Virá-los pelo avesso não é a solução”. Eu me viro pelo avesso e mostro minh’alma pro mundo. Gostou, papudo? (essa expressão é da sua época, certo?)

7) Notei o preconceito com o Movimento Poesia Paratudo (MOPOPA) que realizamos no bar nas madrugadas de segunda para terça — e por sorte ninguém precisa trabalhar cedo no dia seguinte, mas vida de artista é desregrada assim mesmo e não é pra quem quer, mas quem pode. Saiba que já passaram por ali 1.863 poetas, todos livres para se expressar e geniais nas suas performances. E todo mundo se adora, eu acho.

8) Sobre o ensaio no final do livro, acontece que eu também sou meio Filósofo e às vezes escrevo umas teorias, mas sem essa coisa de academia chata bagarai que você curte. O que é Poesia? Poesia é tudo.

9) Apesar disso tudo, esqueça essa coisa toda. Pepitas frugais é coisa do passado, pois já esqueci a minha ex e eu olho pra frente. Segue anexa minha nova Obra Poética Transmídia, Poetizgrila Unchained, produzida a partir das gravações das festas de mesmo nome onde vou tocar como DJ, mescladas com frases que ouvi nas manifestações recentes e sons de pessoas transando — inclusive comigo. Já na introdução aviso que é preciso se libertar do olhar careta e preconceituoso e mergulhar de alma na Poesia. No fundo eu não passo de um romântico.

10) Agora vou parar de falar de mim e deixar você falar. Véi, na boa, o que acha de mim?

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Afinação da arte de chutar pombos

(crônica publicada no site Vida Breve).

Outro dia postei que, num mundo perfeito, todos poderiam chutar pombos. Foi o que pensei certa vez, depois de muito divagar numa praça cheia deles. Mas calma lá, eu nunca chutei um pombo. Ainda não. Essa é só uma ideia agradável, em tal nível de crueldade que só não me sinto um ser profundamente vil porque descobri ser um desejo oculto de muita gente. Alguns já me confessaram esse fetiche, e uns poucos afirmaram terem chegado às vias de fato, em relatos plenos de satisfação e alívio. No entanto, embora eu nunca tenha manifestado esse impulso em nenhum aspecto prático, venho aqui registrar um ornitobullying: venho sendo constantemente atacado pelos pombos do Largo do Machado, que fazem tocaia até que eu saia da estação do metrô, avançando logo em seguida numa revoada colossal. Não pode, poxa.

E lá vem a patrulha de defesa dos animais et coetera. Mas troco aqui a importante PETA por uma simples peta: não é correto chutar pombos, mas como seria bom se fosse… A imagem da pombinha branca, que é o símbolo da paz, remete a Noé: a ave retornou para a arca trazendo no bico um raminho de oliveira, indicando que era o fim do dilúvio a terra firme já aparecia. E o que não dizer dos bravos pombos-correios, esses antepassados de cada e-mail que trocamos todos os dias, que cruzavam distâncias inimagináveis, enfrentando intempéries e vicissitudes, sem julgar a relevância ou eventual banalidade da informação que carregavam?

Tudo bem, mas não posso evitar a menção a um episódio traumático. Há uns 15 anos, atravessando a rua, fui atingido por uma dejeção certeira originada de um pombo, que resvalou na cabeça, ricocheteou na lente dos óculos e se estendeu camisa abaixo. Segui desnorteado, até que chegando à outra calçada esbarrei com uma conhecida, cujo oi inicial precedeu uma frase de profunda compaixão diante do meu estado, como se dirigida a quem acabasse de perder um ente querido: “Não precisa dizer nada…”

Daí que aceito os pombos no geral, mas a questão é particular. Muito se tem falado a respeito dos males trazidos por essas aves. Hoje mesmo assisti na TV a uma reportagem informando que, em Londrina, iriam multar quem os alimentasse. Lembro-me também de uma crônica do João Ubaldo, na qual ele sugeria que os pombos dos centros urbanos poderiam até ajudar a matar a fome de muita gente. Não feito codorninhas, mas processados e triturados numa rica farinha proteica. Calma lá, eu não chego a tanto, mas acredito que o escritor baiano possua sentimento parecido com o que escondeu o poeta Raimundo Correia, famoso pelo soneto das pombas. No primeiro quarteto ele diz:

Vai-se a primeira pomba despertada…

Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas

De pombas vão-se dos pombais, apenas

Raia sanguínea e fresca a madrugada…

Acredito que as regras de polimento dos parnasianos tenham impedido o poeta de tratar diretamente do horror que sentia diante dos pombos. Reparando bem, esses decassílabos poderiam ser declamados numa das cenas de “Os pássaros”, do Hitchcock. E vejam: com direito a sangue fresco na madrugada…

E redigo: nunca chutei um pombo sequer. Tinha um acordo tácito com eles, tal como naquele episódio de Seinfeld, no qual George Costanza atropela, tropeça nos pombos e depois reclama com razão: “Nós tínhamos um pacto!”

Tomei emprestado para esta crônica o título do conto bastante conhecido do João Antônio, em que o escritor, com sua malandragem peculiar, trata de chutar tampinhas de garrafa: “É doce chutá-las bem baixo, para subirem e demorarem no ar”. E é assim que vai ser agora. Se os pombos do Largo do Machado tiveram acesso à minha frase inicial sobre o mundo perfeito para iniciarem essa onda de agressão, irão ler este texto aqui também, e tratarão logo de ir cantar de galo em outra freguesia. Porque agora, ratos com asas, ao contrário de vocês, eu não terei pena. Se os ataques não cessarem, sugiro colocarem um Sinatra cantando “Fly me to the moon” como trilha sonora do que virá. E podem até chamar em seu auxílio Hélio Bicudo, Jarbas Passarinho, Palomas e Colombinas, porque a guerra está declarada. Pombas!

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